segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Um sapato velho... - Uma reflexão natalina.


“Você lembra, lembra? Daquele tempo... Eu tinha estrelas nos olhos e era mais forte e veloz que qualquer mocinho de cowboy... Você lembra, lembra? Eu costumava andar bem mais de mil léguas...  Pra poder buscar flores-de-maio azuis... E os seus cabelos enfeitar... Água da fonte cansei de beber para não envelhecer... Como quisesse roubar da manhã um lindo por do sol... Hoje não colho mais as flores-de-maio... Nem sou mais veloz, como os heróis...” – Roupa Nova


Ainda não cheguei, oficialmente, à terceira idade. Estou com 58 anos e meu aniversário é em fevereiro... Sou aquariano! Talvez seja por isto que consiga olhar as coisas com olhos de futuro e, evidentemente, de esperança.


Eu, nos meus 35 anos, estava no auge da forma física... 1,87 m de altura e 93 Kg... Se não tivesse nenhuma gordura no corpo, segundo um teste informatizado, deveria pesar 89 kg... Estava muito bem!

Em que curva do destino perdi o rumo? 




Certamente, apesar dos pesares, nessa ocasião já me encontrava na “2ª prorrogação”, haja vista ter me arrebentado e quase desencarnado aos quase 13 anos, num acidente de carro, e, aos 21 anos, ter tomado uma ”garupada”, no ar, em pleno salto a cavalo na AMAN, sendo ejetado do “sacana”, caindo de cabeça – ainda bem que o solo era de areia! – com a cabeça enterrada, o meu pescoço foi a charneira, com o peso e a velocidade, levando as minhas costas ao chão... Saí andando com o pescoço endurecido... No Hospital Militar, o Major ortopedista, com a radiografia, veio sorrindo e falou: “Deus escreve certo com linhas tortas”... Intrigado com a graça,  perguntei: “o que é engraçado Major?”... Ele respondeu: “você tem 2 vértebras coladas no pescoço... Defeito genético... Foram elas que suportaram toda a pressão da queda e torção do corpo... Se assim não fosse, agora você estaria tetraplégico ou morto.


Pois é, mas os desregramentos da bebida (é difícil um cavalariano não gostar de uma “canha”!) e o stress - Aaahhh o stress... - me levaram para a “3ª e 4ª prorrogações”...


Infartei pela 2ª vez (artéria Coronária) aos 50 anos, após um Teste de Aptidão Física, no qual obtive os índices normais e necessários - na 1ª vez eu não sabia o que tinha acontecido comigo... foi com 42 anos... Uma ardência no peito... Corria, nadava, fazia academia etc e tinha uns "apagões" estranhos... Somente descobri o que aconteceu na hora do cateterismo do 2ª infarto, que a artéria Descendente Direita estava com 95% de obstrução calcificada ... Passei por um aperto nos 2 cateterismos que necessitei fazer, onde acordei da sedação no meio e quase no final, respectivamente... Passei a ter isquemia... “Safenei” e “mamariei”, em Fev 2011, aos 51 anos... Na cirurgia, de peito aberto, estava anestesiado e, por incrível que possa parecer, fiquei consciente... Perdi as contas das retomadas de consciência e dos desmaios subsequentes que passei – talvez um resgate necessário de várias existências com a a espada na mão... Lembro com nitidez do início da cirurgia, quando começaram a me cortar e serrar o esterno; e do final, com tudo no lugar, as placas do desfibrilador sendo encostadas no meu peito, com a ordem de se afastarem - a porrada é a de um caminhão, a toda velocidade, batendo no peito! – Acordei 3 a 5 horas depois da cirurgia? Não! Ao sair da sala de operação, abri os olhos e mandei avisar ao anestesista que “voltei”, não era naquele momento, mas, sim, durante a cirurgia - é que eu tinha dito a ele, antes da mesma, que eu sofria “alguns problemas com anestésicos e anestesias”...


Os anos avançaram e neste 2018 ganhei um grande presente: ser admitido na “Academia Socrática-Platoniana do Calderaro” - É um nome carinhoso que inventei para os diálogos semanais que tenho com o meu bom amigo Cel Eng QEM R/1 Calderaro – pois, tal, muito está me ajudando na maneira de enxergar o mundo e as pessoas com seus problemas... “Não adianta chorar ou se lamentar sobre o leite derramado” diria a minha sábia avó Maria... Envelheci rápido, mas a mente não!





E para o ano que vem outro presente! 

Parafraseando o cantor e compositor Gilberto Gil com a sua famosa canção “Alô Alô Realengo!”, posso afirmar: “e o Pará vai me dar régua e compasso!” 

É NATAL!! Uma pessoa me forçou a esta reflexão hoje pela manhã... Certamente não temos a “fonte da juventude” para tomarmos de suas águas... Não estou andando mil léguas e colhendo flores para encher os cabelos da amada, como fiz um dia...




E nem sou mais veloz como os heróis... Mas a música continua... “É! Talvez eu seja simplesmente como um sapato velho...” E um sapato velho é algo gostoso de se calçar – não tenho a pretensão de me achar “gostoso”, mas podemos, sempre, ser agradáveis às pessoas com quem nos relacionamos! 

Ter saúde e força nos músculos” foi o que eu disse para essa pessoa... Nunca mais retornaremos, nesta existência, a ser como antes, mas podemos com esforço e vontade, nos educarmos e chegarmos a um ponto de equilíbrio entre a atual situação desagradável e aquilo que admiramos em nós mesmos, no passado...

Afinal... “Mas ainda sirvo se você quiser... Basta você me calçar... Que eu aqueço o frio dos seus pés.”... Um “sapato velho” não é algo de se jogar fora, basta termos atenção com ele e, no caso, conosco mesmo!! 

 

Faz 12 anos... Representei, com louvor, o bom velhinho... Hoje à noite farei novamente...



FELIZ NATAL A TODOS!!! E QUE TENHAMOS UM 2019 REPLETO DE REALIZAÇÕES E FELICIDADE!!!
 
 
 
 

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