“Você lembra, lembra?
Daquele tempo... Eu tinha estrelas nos olhos e era mais forte e veloz que
qualquer mocinho de cowboy... Você lembra, lembra? Eu costumava andar bem mais
de mil léguas... Pra poder buscar
flores-de-maio azuis... E os seus cabelos enfeitar... Água da fonte cansei de
beber para não envelhecer... Como quisesse roubar da manhã um lindo por do
sol... Hoje não colho mais as flores-de-maio... Nem sou mais veloz, como os
heróis...” – Roupa Nova
Ainda não cheguei,
oficialmente, à terceira idade. Estou com 58 anos e meu aniversário é em
fevereiro... Sou aquariano! Talvez seja por isto que consiga olhar as coisas
com olhos de futuro e, evidentemente, de esperança.
Eu, nos meus 35 anos,
estava no auge da forma física... 1,87 m de altura e 93 Kg... Se não tivesse
nenhuma gordura no corpo, segundo um teste informatizado, deveria pesar 89
kg... Estava muito bem!
Em que curva do destino
perdi o rumo?
Certamente, apesar dos
pesares, nessa ocasião já me encontrava na “2ª prorrogação”, haja vista ter me
arrebentado e quase desencarnado aos quase 13 anos, num acidente de carro, e, aos 21
anos, ter tomado uma ”garupada”, no ar, em pleno salto a cavalo na AMAN, sendo
ejetado do “sacana”, caindo de cabeça – ainda bem que o solo era de areia! –
com a cabeça enterrada, o meu pescoço foi a charneira, com o peso e a
velocidade, levando as minhas costas ao chão... Saí andando com o pescoço
endurecido... No Hospital Militar, o Major ortopedista, com a radiografia, veio
sorrindo e falou: “Deus escreve certo com linhas tortas”... Intrigado com a
graça, perguntei: “o que é engraçado
Major?”... Ele respondeu: “você tem 2 vértebras coladas no pescoço... Defeito
genético... Foram elas que suportaram toda a pressão da queda e torção do corpo...
Se assim não fosse, agora você estaria tetraplégico ou morto.”
Pois é, mas os
desregramentos da bebida (é difícil um cavalariano não gostar de uma “canha”!)
e o stress - Aaahhh o stress... - me levaram para a “3ª e 4ª prorrogações”...
Infartei pela 2ª vez (artéria Coronária) aos 50 anos,
após um Teste de Aptidão Física, no qual obtive os índices normais e
necessários - na 1ª vez eu não sabia o que tinha acontecido comigo... foi com 42 anos... Uma ardência no peito... Corria, nadava, fazia academia etc e tinha uns "apagões" estranhos... Somente descobri o que aconteceu na hora do cateterismo do 2ª infarto, que a artéria Descendente Direita estava com 95% de obstrução calcificada ... Passei por um aperto nos 2 cateterismos que necessitei fazer,
onde acordei da sedação no meio e quase no final, respectivamente... Passei a
ter isquemia... “Safenei” e “mamariei”, em Fev 2011, aos 51 anos... Na
cirurgia, de peito aberto, estava anestesiado e, por incrível que possa
parecer, fiquei consciente... Perdi as contas das retomadas de consciência e
dos desmaios subsequentes que passei – talvez um resgate necessário de várias
existências com a a espada na mão... Lembro com nitidez do início da cirurgia,
quando começaram a me cortar e serrar o esterno; e do final, com tudo no lugar,
as placas do desfibrilador sendo encostadas no meu peito, com a ordem de se
afastarem - a porrada é a de um caminhão, a toda velocidade, batendo no peito!
– Acordei 3 a 5 horas depois da cirurgia? Não! Ao sair da sala de operação,
abri os olhos e mandei avisar ao anestesista que “voltei”, não era naquele
momento, mas, sim, durante a cirurgia - é que eu tinha dito a ele, antes da
mesma, que eu sofria “alguns problemas com anestésicos e anestesias”...
Os anos avançaram e
neste 2018 ganhei um grande presente: ser admitido na “Academia
Socrática-Platoniana do Calderaro” - É um nome carinhoso que inventei para os
diálogos semanais que tenho com o meu bom amigo Cel Eng QEM R/1 Calderaro –
pois, tal, muito está me ajudando na maneira de enxergar o mundo e as pessoas
com seus problemas... “Não adianta chorar ou se lamentar sobre o leite
derramado” diria a minha sábia avó Maria... Envelheci rápido, mas a mente não!
E para o ano que vem outro
presente!
Parafraseando o cantor
e compositor Gilberto Gil com a sua famosa canção “Alô Alô Realengo!”, posso
afirmar: “e o Pará vai me dar régua e compasso!”
É NATAL!! Uma pessoa me
forçou a esta reflexão hoje pela manhã... Certamente não temos a “fonte da
juventude” para tomarmos de suas águas... Não estou andando mil léguas e colhendo
flores para encher os cabelos da amada, como fiz um dia...
E nem sou mais veloz
como os heróis... Mas a música continua... “É! Talvez eu seja simplesmente como
um sapato velho...” E um sapato velho é algo gostoso de se calçar – não tenho a
pretensão de me achar “gostoso”, mas podemos, sempre, ser agradáveis às pessoas
com quem nos relacionamos!
“Ter saúde e força nos
músculos” foi o que eu disse para essa pessoa... Nunca mais retornaremos, nesta
existência, a ser como antes, mas podemos com esforço e vontade, nos educarmos
e chegarmos a um ponto de equilíbrio entre a atual situação desagradável e aquilo que admiramos em nós mesmos, no passado...
Afinal... “Mas ainda
sirvo se você quiser... Basta você me calçar... Que eu aqueço o frio dos seus
pés.”... Um “sapato velho” não é algo de se jogar fora, basta termos atenção
com ele e, no caso, conosco mesmo!!
Faz 12 anos... Representei, com louvor, o bom velhinho... Hoje à noite farei novamente...
FELIZ NATAL A TODOS!!!
E QUE TENHAMOS UM 2019 REPLETO DE REALIZAÇÕES E FELICIDADE!!!
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