“Prepare o seu coração
Prás coisas que eu vou contar
Eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão
E posso não lhe agradar
Aprendi a dizer não
Ver a morte sem chorar
E a morte, o destino, tudo
E a morte, o destino, tudo
Estava fora do lugar
E eu vivo prá consertar...”
Nos meus 6 anos de idade ouvi esta música: “Disparada”, do Geraldo Vandré, a qual era interpretada magnificamente pelo Jair Rodrigues... Muito me marcou... Três anos após, não chorei a morte do meu avô e nem a do meu pai... Passei a vida consertando tudo que aparecia pela proa...
Os anos avançaram... Me transformei em militar ou fiz ele renascer, novamente, ou tudo junto e misturado, mas ao cabo do 1º ano na EsPCEx, ao ser interpelado pelo meu querido tio Adhemar Henrique Terzi, que era Capitão de Intendência, nos idos de janeiro de 1977, se iria para o IME, respondi que não, pois a AMAN seria o meu destino e, se Deus assim o quisesse (pois me esforçaria para tal!), iria para a Cavalaria... Ele riu muito, pois jamais imaginaria tamanha “virada” em alguém...
“Na boiada já fui boi, mas um dia
me montei
Não por um motivo meu
Ou de quem comigo houvesse
Que qualquer querer tivesse...”
E tal qual a música saí da “boiada”, virei cavalariano (”boiadeiro”)...
“Vão uns pelo largo campo da ambição soberba, outros pelo da adulação servil e baixa, outros pelo da artificiosa hipocrisia e alguns pelo da religião sincera. Eu, porém, inclinado à minha estrela, vou pela estreita senda da Cavalaria, por cujo exercício desprezo a fazenda, mas não a honra.” (Miguel de Cervantes)
“Boiadeiro muito tempo
Laço firme, braço forte
Muito gado e muita gente
Pela vida segurei
Seguia como num sonho
Que boiadeiro, era um rei
Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E nos sonhos que fui sonhando
As visões se clareando
As visões se clareando
Até que um dia acordei...”
Pois é, não existe perfeição na vida humana... Tentamos fazer o melhor, sempre! Quando era Aspirante-a-Oficial, junto ao meu 1º Pelotão, o “Raposa”, me perguntava se um homem poderia fazer a diferença, sendo que as respostas bíblicas que obtive, na prática, foram: “vós sois o sal do mundo” e “um pouco de fermento leveda toda a massa”... Não importava aonde me encontrava e nem o posto/cargo que tinha, consertei/arrumei muitas coisas e criei outras tantas... O tempo na sua marcha sempre nos leva adiante... Um sonho de “ armadura, capa, escudo e espada” gestado como Cadete de Cavalaria permanecia...
“Então não pude
seguir, valente em lugar tenente
E dono de gado e gente, porque gado a gente marca
Tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente
Se você não concordar, não posso me desculpar
Não canto pra enganar, vou pegar minha viola
Vou deixar você de lado, vou cantar noutro lugar”
Convicções e atitudes... Desde Tenente fui me metendo em confusão, às vezes por forças das circunstâncias, às vezes por força da função/cargo, às vezes sabendo que ia “me ferrar”... Fazer o quê?... Se assim não o fosse, não seria eu... Lata de pêssego furtada do Cassino dos Oficiais; “rolo” na entrega do leite no aquartelamento; furto de combustível e material (me rendeu a 1ª ameaça de morte); desaparecimento de Soldado; suicídio de Soldado; furto/recuperação de pistola; desbaratamento de quadrilha de agiotagem, contrabando de armamento e tráfico de drogas; descoberta do responsável por furto de fuzis, com busca, por conta e risco, na linha de fronteira e conhecimento de inteligência que favoreceu a Força e meu Comando Militar de Área (me renderam a Medalha da Vitória); suicídio de Oficial; ações inteligência para “proteção” dos alunos de Colégio Militar; “aperto” de uma Guarnição como Chefe do Sv de Polícia (me rendeu a 2ª ameaça de morte e a Medalha do Pacificador)
Passados 29 anos, ainda gostaria de ser “Cavaleiro” de uma Ordem Militar... Nos idos de 2009, já Coronel, o meu amigo de outros “Carnavais difíceis”, da época da 6ª Cia Intlg (Campo Grande/MS), o Gen Div Newton Álvares Breide, então Cmt 8ª RM, me propôs para a Ordem do Mérito Militar (OMM), onde o 1º Grau é o de “Cavaleiro”... Seria um sonho quase que impossível, pois um Oficial do Quadro Suplementar Geral (QSG), normalmente, não recebe tal condecoração, a qual fica destinada aos Oficiais do Quadro do Estado-Maior (QEMA), Oficiais do Quadro Auxiliar de Oficiais (QAO) e Praças... Então o lance ficou somente no sonho... Fui para a reserva remunerada em Out 2012.
"Os preceitos de conduta que um cavaleiro deve seguir são: seja valente e Deus poderá ajudá-lo; diga a verdade, mesmo se isso por resultar na sua morte; e proteja os desamparados. Este é o seu juramento, e ele o cumpre até o seu derradeiro instante da sua vida."
No ano seguinte, retornei à lida como Prestador de Tarefa por Tempo Certo (PTTC). Passei a ser Ouvidor no Hospital Geral de Belém (HGEBE) - foram 3 anos revivendo uma Ordem Militar de Cavalaria, da época das Cruzadas, onde os monges-cavaleiros também eram médicos: os Hospitalários... Anos gratificantes e difíceis (até assassinato teve), onde muito ajudei o meu irmão, o Cel Med R/1 Mário de Souza Rosas Filho, então Diretor... O meu sonho de Cadete de Cavalaria foi vivenciado...
“Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E já que um dia montei
Agora sou cavaleiro
Laço firme, braço forte
De um reino que não tem rei”
Em Jan 2017, com a passagem da Direção, fui “puxado” para o Quartel-General Integrado (QGI) CMN-8ª RM, ganhando processos/cobranças para cuidar - Empenhos, Processos Administrativos, Danos ao Erário e, ultimamente, também, os esclarecimentos de irregularidades no pagamento (e-Pessoal/TCU) - sendo que, no fim de 2020, pelo reconhecimento do meu atual Cmt, o Gen Div Maurílio Miranda Netto Ribeiro e do então Chefe do Estado-Maior, o Cel Eng Ronaldo Isabel dos Reis, fui o indicado para a única OMM reservada para inativos! Comemorei a realização do, até então impossível, sonho “de armadura, capa, escudo e espada”, cantando “Disparada” - finalmente seria Cavaleiro!
Mas a vida tem seus caprichos... Em março deste ano, me deu um “estalo” na cabeça e resolvi xeretar o Diário Oficial de União (DOU) e para a minha surpresa lá estava a publicação... Não seria mais “Cavaleiro” da Ordem do Mérito Militar, haja vista, mesmo antes de obtê-la, ter sido “promovido” a “Oficial” (2º Grau)... Tudo bem! Pertenço a uma Ordem Militar, mas em vez de ser, passei a “chefe dos Cavaleiros”... Ganhei o meu “Oscar” pelo conjunto da obra desenvolvida ao longo de 45 anos de EB – estou feliz! Muito agradeço a Deus, à minha Família, ao Gen Div Breide, ao Gen Div Ribeiro e ao Cel Ronaldo Reis!! Selva!!!